Hasteamento da Bandeira e Santa Missa marcam a Abertura Festa de São Francisco das Chagas

Ainda era madrugada, de quinta-feira (06). Às 3 horas de hoje, uma grande multidão já estava à espera e outras centenas de pessoas continuavam chegando. São Franciscos e Franciscas que não temem a jornada e de qualquer maneira vem ver São Francisco. Caminharam vários quilômetros ou dormiram no chão a céu aberto em um gesto de humildade e gratidão ao santo protetor. O início das comemorações da Festa de São Francisco, em Canindé, foi marcado mais uma vez pela fé e devoção dos fiéis.

Antes da celebração, as mãos disputavam espaços em meio ao tecido santo. Nem mesmo o cansaço da madrugada, acomodou os fiéis, que fizeram questão de permanecer junto ao símbolo de fé e devoção do povo nordestino. Muitos rezam e agradecem e muitos se emocionam. Tudo para estar perto da bandeira franciscana que permanece hasteada até o dia 17 de outubro. Às 4h20 minutos da manhã de hoje, quando teve início à edição 2016 da Romaria de São Francisco das Chagas, em Canindé, a 126 km de Fortaleza. A estimativa da Polícia Militar é de que cerca de 10 mil devotos tenham participado da solenidade de abertura.

Por volta das 4h da manhã, os frades franciscanos deixaram o interior da Basílica em direção ao altar e deram início à cerimônia. O pároco de Canindé, Frei Marconi Lins, presidiu a solenidade que contou com a presença do Ministro Provincial Frei João Amilton dos Santos. Houve o hasteamento das três bandeiras (Brasil, Canindé e São Francisco), enquanto a banda da cidade do maestro J. Ratinho tocava os hinos de louvores. O prefeito Celso Crisóstomo, hasteou a bandeira de Canindé, e, foi prestigiado por Secretários, que estiveram presentes durante a cerimônia, marcada por um clima de muita fé e emoção e que terminou por volta das 6h da manhã.

O ponto alto das festividades; às homenagens dos 800 anos do Perdão de Assis onde os franciscanos mostraram a importância desse carisma para o povo nordestino.

Recepcionados na Praça da Basílica pela banda Vozes do Santuário, os peregrinos aguardavam o início da missa que daria assim o anúncio aos dez dias de homenagens ao santo que em vida imitou Jesus Cristo e se tornou o espírita mais evoluído da história.

O primeiro momento de demonstrar o apego a São Francisco das Chagas, antes da celebração eucarística foi o hasteamento da bandeira do santo, acompanhada das bandeiras de Canindé e do Brasil. Vários romeiros tentavam à todo custo beijar ou, pelo menos, tocar no tecido, em uma manifestação apaixonada de oração ao santo protetor. “É muito amor que tenho por São Francisco. Ele já realizou muitas bênçãos na minha vida e eu preciso agradecer a ele por tudo”, declara Maria Alice Frota, 43 anos, dona de casa, após um rápido toque na bandeira.

Às 4 horas tem início a missa. Durante a celebração, frei Marconi Lins, Pároco e Reitor do Santuário, lembrou aos moradores da cidade sobre a importância da boa hospitalidade aos peregrinos. “Abram suas portas para os romeiros. Vejam neles Jesus que chega à sua casa, portanto tratemos bem e sem abusos”, pediu o sacerdote durante a homilia.

“A força espiritual é imensa no Santuário de Canindé. Aqui se vê Cristo representado por São Francisco que impressionou o mundo inteiro. Francisco continua vivo em Canindé, mesmo depois dos 790 anos de sua morte’’, ressaltou frei Marconi.

Há quem siga a recomendação do padre. Fernando Batista Paiva, de 44 anos, é garçom, mas no tempo livre fez questão de se juntar à equipe de voluntários da festa. “Todos os anos eu ajudo com posso e participo da festa. Sou voluntário para ajudar com a bandeira e com o painel de São Francisco. É algo que eu faço pelo amor que tenho ao santo”, afirma Pipi como é conhecido na cidade.

Logo em seguida da ocasião do encontro do “irmão Sol” com a “irmã Lua” (como São Francisco chamava a criação de Deus), às 5h30, a missa termina e os romeiros tomam o rumo da Igreja Matriz, da Casa dos Milagres, onde os fiéis depositam as provas da intercessão de São Francisco em suas vidas, ou voltam ao descanso para acompanhar a programação da novena, que acontece diariamente às 18 horas.

A movimentação, entretanto, já é motivo de comemoração para aqueles que organizaram a festa. “Estamos bastante felizes, pois já deu para ver que teremos muitos romeiros nesse ano. Isso fortalece a equipe que preparou a festa. O tema nesse ano é ‘Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas’, é isso que vai inspirar e fortalecer a fé e a devoção de todos os nossos romeiros”, coloca frei Marconi.

Devotos contam histórias de graças alcançadas

Caminhar entre o aglomerado que se forma nos dias de festa neste município é esbarrar não com pessoas, mas com histórias de fé, devoção e cura em virtude das graças de São Francisco das Chagas. Existe graça de todo tipo, que não devem ser julgadas em grau de importância, já que cada pessoa traz em si a própria realização pessoal, sempre por intermédio do padroeiro.

“Eu tenho até vergonha de falar, porque parece besta, mas foi importante para mim. Uma graça que São Francisco me ajudou a conseguir foi aprender a ler as horas em relógios de ponteiro. Era algo que eu sempre quis saber e tenho certeza de que o santo me ajudou”, afirma Francisca Maria da Piedade de 51 anos que veio a pé da comunidade de Cachoeira Cercada em Canindé para acompanhar a festa.

Já o agricultor Antônio Francisco Xavier de 49 anos, já perdeu as contas de quantas vezes saiu de Itatira para acompanhar o festejo. “Eu venho para Canindé desde que me entendo por gente. Tanto é que, quando eu tive um problema na cabeça, foi São Francisco que me valeu. Hoje eu só tenho a agradecer a ele, por isso faço questão de ficar os dez dias da festa”, comenta.

Histórico

A devoção a São Francisco no local onde hoje está baseada a Basílica de São Francisco já existe há mais de 258 anos. A paróquia de São Francisco das Chagas, entretanto, deve completar dois séculos de existência em 2017. De acordo com frei Joãozinho Sannig, a devoção a Francisco em Canindé tem raízes ainda no descobrimento do Brasil, com os frades que vieram acompanhando a comitiva de Pedro Álvares Cabral. “Alguns frades se instalaram em Recife e andavam nas regiões vizinhas, do Ceará e da Paraíba. Houve um momento em que os frades começaram a deixar em alguns locais os que chamamos de terceiros franciscanos, ou seja, pessoas que não eram padres, mas queriam seguir os ensinamentos de Francisco. Isso aconteceu em Canindé”, conta frei Joãozinho.

Inicialmente os frades montaram uma capela, o que seguiu à construção da igreja em devoção a São Francisco das Chagas. “Essa devoção vem de encontro à necessidade do povo”, diz ele.

COMO SURGIRAM AS CAMINHADAS:

As caminhadas da madrugada que antecede a abertura da Festa de São Francisco têm origem no movimento das famílias de se reunirem para ir a Canindé pagar promessas. Com o passar do tempo, as comunidades foram se organizando e, por meio do rádio, passaram a anunciar para as mais distantes o local, a hora e o trajeto que deveriam seguir até o município de Canindé.

Em 1986, sentindo o crescimento das procissões, o vigário da época, frei Lucas Dolle, deu poderes aos coordenadores de Pastorais para motivar e organizar a romaria a pé. Dez anos depois, surgiram os conselhos dos Serviços Fraternos da sede e da zona rural, que passaram a organizar um plano de ação para as caminhadas. Neste ano, foram cinco roteiros de caminhos.

Milhares de peregrinos chegaram ainda no começo da madrugada desta quinta-feira à Praça da Basílica para a abertura oficial dos Festejos da Romaria de São Francisco das Chagas, que se estendem até o próximo dia 4 de outubro. Nas rodovias de acesso à sede, grupos caminhavam no meio do escuro ou seguindo paredões de som tocando hinos ou cânticos em louvor ao patrono dos pobres e humildes.

Nas entradas da cidade, os canindeenses deram um exemplo de solidariedade: havia distribuição gratuita de lanches, como cachorro-quente e sopa, além de água e refrigerantes, e as boas-vindas aos romeiros.

Texto da Assessoria da Paróquia de São Francisco das Chagas

Fotos: Arquivo da Paróquia – por Rogério Sales, João Pedro e Antônio Carlos Alves.

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