Certo dia, ao cavalgar pelas planícies ao redor de Assis, deparou-se com um doente, cujas úlceras lhe pareceram tão repugnantes, que ficou horrorizado. Tinha verdadeiro horror pelos leprosos. Mas desceu do animal, e quando o doente lhe estendeu a mão para pedir uma esmola, Francisco, ao apresenta-la, beijou-lhe a mão. A partir dalí passou a visitar os hospitais e a servir os doentes, distribuindo entre os pobres ora as vestes, ora o dinheiro. Beijava as mãos de cada leproso a quem entregava uma esmola, conseguindo vitória total sobre si mesmo. Tornou-se tão amigo e familiar que gostava de ficar entre eles e servi-los.
Os leprosos ocupavam uma posição muito especial entre os doentes e pobres da Idade Média. Eram considerados o símbolo vido de Jesus chagado na Paixão. Mais do que todos os outros pobre, eram objetivo de atenção cristã. Ordens religiosas foram fundadas para cuidar deles. No princípio do século XII, havia na Europa 19.000 leprosários, onde os doentes eram recebidos e alimentados numa espécie de comunidade conventual. Apesar de tudo isso, a vida do leproso era triste: vivia à margem da sociedade e leis severas impediam qualquer contato com as outras pessoas. Em Assis também havia um desses hospitais-leprosários.
Mais tarde, Francisco insistiu que eles deveriam ser considerados e tratados como “meus irmãos em Cristo”. Seu afeto por eles foi tão grande que chegou a comer no mesmo prato com um deles, o mais desfigurado, todo cheio de chaga e úlceras, que exalava cheiro nauseabundo. Francisco pegava o alimento com os dedos, e o leproso colocava no mesmo prato seus dedos contorcidos e escorrendo sangue que caía no prato, sempre que lá nos metia. Francisco, feliz, participava da mesma comida. O que no início parecia uma tortura, se transformou em alegria: via um amigo, e não um leproso.
Fonte: São Francisco. O Poeta da criação. Autor: Pe. José Artulino Besen. Editora: Mundo e Missão.