A obra de Clara estava sempre no coração de Francisco. Muitas vezes ele enviou doentes e enfermos que ela conseguia curar à força de delicados cuidados. Apesar de sua humildade, Francisco era obrigado a reconhecer a grande admiração que Clara e as outras irmãs tinham por ele. Era uma admiração espiritual, mas também humana. Para evitar qualquer tipo de dependência e para deixa-las totalmente livres frades acharam que isso era falta de caridade, mas Francisco disse que a finalidade da ausência era “no futuro não haver nenhum intermédio entre Cristo e as irmãs”.
Após longa ausência e depois de muitos pedidos das irmãs, num dia Francisco aceitou ir pregar em São Damião. Entrou na igreja e ficou um momento de pé, rezando de olhos levantados para o céu. Depois pediu um pouco de cinza. Com ela desenhou um círculo à sua volta e o resto passou na cabeça. E então rompeu o silêncio, não para pregar, mas para rezar o Salmo da Penitência (Sl 50). Depois foi embora, feliz por ter ensinado à Clara e às irmãs que nada mais podiam ver nele do que um pecador que fazia penitência.
Em março de 1225, já muito doente, Francisco visitou Clara em São Damião e manifestou o desejo de ali permanecer, mas a doença exigia tratamentos em outros lugares. Foi ali, sofrendo terrivelmente com a doença e o barulho dos ratos que lhe impediam o sono, que explodiu num hino de alegria ao Criador, o “Cântico do Irmão Sol”. Foi no jardinzinho de Clara, e pela última vez, que os dois conversaram. No ano seguinte morreu o pai Francisco e Clara viveu mais 27 anos na paz e na saudade de Francisco.
Fonte: São Francisco. O Poeta da criação. Autor: Pe. José Artulino Besen. Editora: Mundo e Missão.