Mesmo antes do sol aparecer ao longo da Avenida Francisco Cordeiro Campos, que dar acesso a Igreja de Cristo Rei, no bairro do Monte, os romeiros, aos poucos, vão chegando, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores, para iniciar o primeiro ato de fé do dia. Assim começa a Via-Sacra, exercício da piedade popular que ganha significado todo especial em Canindé.
Eles percorrem os últimos momentos da vida de Jesus, uma penitência que se torna obrigatória para aqueles que vem em romaria a Canindé. Às 5h da manhã todos já estão apostos com livros, terços, alguns vestidos de marrom e, com ajuda dos frades, inicia-se a caminhada que percorre a avenida até a Igreja de Cristo Rei, também conhecida como Igreja do Monte.
As paradas das 14 estações são marcadas por monumentos colocados ao longo da via que retratam os sofrimentos de Cristo desde sua condenação até sua morte, sepultamento e Ressurreição. São gastos exatos 60 minutos até o ponto da celebração eucarística.
Não é raro ver entre os que percorrem este caminho a celebração de um rito particular que nasceu do próprio povo: muitos romeiros e romeiras levando consigo, à cabeça, uma pedra. A cada parada trocam de pedra, deixando à que traziam na imagem do monumento referente àquela estação e tomando outra, num gesto de partilha e solidariedade com os sofrimentos dos demais irmãos.
Um retrato da fé em Canindé. De fato, em Canindé, é um refúgio para a paz e se percebe aquilo que o tema da festa deste ano bem retrata: ‘’Senhor fazei-me um instrumento de vossa paz’’.
Uma das senhoras carregava a pedra sobre a cabeça agradecia por ter sido curada de sua dor de cabeça; outra pedia a cura de sua mãe que se encontrava gravemente enferma; já dona Maria das Graças Feitosa da cidade de Maranguape via esta como a oportunidade de associar seus sofrimentos aos sofrimentos de Cristo, como fez São Francisco. Ela rezava para suportar o peso de seus desafios familiares e a pedra representava este peso, o peso da cruz de Cristo.
Confira algumas imagens da via sacra em Canindé:
Ao final da caminhada, chega-se à Igreja do Monte, dedicada a Cristo Rei. O dia já está claro, a luz venceu a escuridão das trevas. É momento de rezar a última estação, que canta a vitória de Cristo sobre os sofrimentos e a morte. O sentimento que invade o coração dos romeiros é também de vitória, de associar suas pequenas conquistas, à Ressurreição de Jesus, ao triunfo da vida.
No monte se agradecer ao Senhor que é alívio e conforto na dor. Rende-se Ação de Graças, celebrando na Eucaristia as pequenas lutas e vitórias do povo, os “milagres” de Deus na vida de um. Ali também cada romeiro refaz o seu compromisso de fé e esperança diante do sofrimento, diante da cruz que, como discípulos de Jesus, somos chamados a tomar a cada dia e carregá-la (Lucas 9, 23), mas que, com a força deste mesmo Mestre, torna-se “julgo suave e peso leve” (Mt 11, 30).
Colaboração de fotos e texto: Antônio Carlos Alves