Depois de conseguir o milagre, os romeiros chegam a Canindé com o objeto que simboliza o pedido realizado ao santo. Os ex-votos são oferendas feitas aos santos de particular devoção ou especialmente indicados por alguém que obteve uma graça ou milagres implorados, como um testemunho público de gratidão.
Embora sua origem seja desconhecida, sabe-se que foram difundidos por volta do ano 2000 a. C. Com o advento da fotografia e do ex-voto de cera semi industrializada, desapareceu a preocupação de apresentar uma obra estética. O ex-voto perdeu em valor artístico, mas não deixou de ter um grande significado como forma de expressão da religiosidade, fé e esperança do povo brasileiro.
Para isso, basta observar uma pesquisa feita por estudantes do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) nos últimos 11 anos. O total de peças que foram depositadas na Casa dos Milagres em Canindé chega a 216.552. Cabeça é a parte do corpo cuja representação mais tem crescido: foram catalogadas 21.997 peças. Para os pesquisadores, é a parte do corpo que mais sofre com as crises que assolam a vida humana.
Também são colocadas na Casa dos Milagres peças de ex-votos que representam os mais diversos órgãos, como coração, útero, órgãos genitais, costelas, tronco, pulmões, coluna vertebral. Outros tipos são maquetes de casas, cascos de animais, certificado de cursos etc.
Acredita-se, dessa maneira, que os ex-votos não são unicamente o registro de um contrato cumprido, mas uma mensagem clara para todo o mundo de que alguém quis reconhecer que Deus tem abençoado a todos com sua misericórdia.
É nesse mundo simbólico que os devotos conseguem acesso ao santo vivo. Contudo, é preciso ir buscá-lo. Em seguida, é necessário encará-lo e construir um ex-voto que seja veículo para a encarnação e a memória deste encontro.
Colaboração de foto e texto: Antônio Carlos Alves (Texto Adaptador pela Equipe de Comunicação do Santuário)
FIQUE POR DENTRO
O ex-voto é colocado em local público ou de acesso coletivo e apresenta uma série de formas testemunhais:
- Representação iconográfica (pintura ou fotografia) das graças ou milagres obtidos, como doenças curadas, perigos evitados, milagres que salvam propriedades de incêndios, secas, enchentes, pragas, dívidas. O bem recuperado é retratado colocando-se numa legenda a narrativa do milagre e a identificação do agraciado;
- Representação em forma de escultura retratando normalmente uma doença curada;
- Inscrições em tábuas, mármores ou outro material “nobre” do testemunho ou gratidão pela graça alcançada;
- Bens como joias, dinheiro, objetos preciosos de uso litúrgico e até igrejas construídas em agradecimento, como é o caso da atual Basílica de São Francisco das Chagas em Canindé;
- Elementos simbólicos como velas e flores;
- Cruzes usadas em peregrinações;
- Representações de casas, edifícios e chaves de carros, acompanhadas de bilhetes referindo-se à aquisição do bem ou sobrevivência em desastres ou acidentes;
- Carteiras de cigarros e garrafas de bebidas agradecendo o abandono do vício;
- Representação de várias espécies de animais narrando a gratidão do proprietário pela cura do animal ou proteção de grave perigo.