Foi lançada ontem, 10 de dezembro, em Brasília, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Cáritas Brasileira, a campanha mundial contra a fome, a pobreza e a desigualdade cujo tema no Brasil é “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas”.
Participaram do lançamento dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Flávio Giovenale, presidente da Cáritas Brasileira, Maria Cristina dos Anjos, diretora executiva nacional da Cáritas Brasileira, Cacielen Nobre, da Presbiteriana Unida e membro da Comissão Teológica do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Irio Luiz Conti, membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), e Selvino Heck, presidente da Rede de Educação Cidadã (Recid).
Mesmo o Brasil sendo a sexta mais rica economia do mundo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a desigualdade ainda é evidente. Cerca de 57 milhões de pessoas estão em situação de pobreza no país e este é um problema que se estende no mundo todo.
“Temos como matar a fome no mundo, mas, para isso, é preciso matar primeiro a ganância”, afirmou dom Flávio Giovenale, presidente da Cáritas Brasileira. “A Campanha mundial quer relembrar a meta estabelecida pelas Nações Unidas de reduzir pela metade o número de pessoas que vivem em extrema pobreza, até 2015”, completou. A concentração de renda na mão de poucos, a má distribuição de comida, o monopólio de terras para plantio e a falta de condições para se adquirir alimentos para a subsistência são apenas alguns dos fatores que fazem com que a miséria seja um problema crônico da atualidade. “Nosso grande desafio é, sem dúvidas, sensibilizar e levar as pessoas a ajudarem uns aos outros. Despertar a consciência da cooperação no sentido da promoção do ser humano como um todo”, disse a Pastora Cacielen.
A situação da fome no mundo é um fenômeno social, e justamente por isso, pode ser alterada. “É preciso quebrar o princípio de que a renda é o critério principal para medir a pobreza”, salientou Irio Luiz. Outros fatores devem ser levados em conta, tais como a falta de terra para viver e cultivar, trabalho digno para gerar renda, moradia, saneamento, saúde (tanto preventiva quanto curativa), cultura e valorização da cidadania. “Trabalhar a pobreza e a fome significa olhar para o ser humano como um cidadão de direitos. As pessoas devem poder escolher com liberdade como se alimentar e ter autonomia nos processos de produção e distribuição do alimento”, reiterou Irio.
Outro fator importante é a especulação das grandes corporações mundiais. A retenção de produção na mão de poucas empresas resulta em menor quantidade de alimentos, preços mais altos para os que podem adquirir comida e extrema fome para aqueles que não podem. É necessário que haja uma reforma agrária, visando fornecer terra para a produção de alimentos e uma reforma tributária de modo que se torne acessível, em termos de custo, a comida para as pessoas.
“A campanha influencia a situação de pobreza no mundo por aliar a questão da comida junto com a justiça. Muito mais do que dar de comer, é se perguntar por que as pessoas têm fome e não tem condições de sair da pobreza. A campanha nos convida a inverter a lógica do capital tornando visível e ajudando a quem está vivendo esta situação de vulnerabilidade”, afirmou Pedro Caixeta, 29 anos, militante da Pastoral da Juventude.
A caminhada é longa, mas o primeiro passo já foi dado. “Não queremos somente pão. Queremos justiça e paz para todos e todas”, finalizou Dom Flávio.
Apoio do Papa
Durante o lançamento, foi exibido uma vídeo-mensagem do papa Francisco, incentivando a Campanha da Cáritas. “Estamos diante do escândalo mundial de cerca de um bilhão de pessoas que ainda hoje passam fome. Não podemos virar as costas e fazer de conta que isto não existe. O alimento que o mundo tem à disposição pode saciar todos”, disse o pontífice.
por Tanara Oliveira, da assessoria de Comunicação da Cáritas Brasileira | Secretariado Nacional
Fonte: Porta da Arquidiocese de Fortaleza. Foto: Nando Zamban