O caminho da Vocação Franciscana

“E Deus, o Altíssimo, nos possua como Sua propriedade. A ele se dêem toda honra e reverência, todo louvor e exaltação, toda ação de graças e toda gloria; ele a quem pertence todo o bem e que só ele é bom” . (São Francisco de Assis)    

No mês de Agosto comemoramos as vocações. A vida neste mundo é toda vocacional. Por natureza, ela é vocação porque Deus chamou tudo e todos à existência. Nela somos propriedade de Deus criador. Assim, existir na vida é estar aberto aos chamados da Divindade criadora, a qual, constantemente, aprecia a cooperação de suas criaturas humanas para cuidar, guardar e preservar a vida. Neste sentido, o caminho da vocação humana é um modo especial de amar e ser amando e de cuidar da vida – respondendo, nesta vocação, ao Deus eternamente Vida e Glória.

Quando falamos sobre o caminho da vocação franciscana, tocamos na base do ser de Francisco de Assis, o qual, antes de abraçar o sentimento religioso de cuidado e amor à vida, vivia conforme a cultura popular de descaso da vida em torno de si. E assim, influenciado por um estilo de vida fundamentado na materialidade das coisas do mundo, como poder, dinheiro, riqueza, título e prestígio, até então, Francisco não tinha clareza como vivenciar socialmente o senso de mansidão, de simplicidade, de humildade, de justiça, de paz, de cortesia e ordem.

Mas como ele tocou sua própria alma? Quando estava vivenciando a experiência de humilhação e de maus tratos na prisão. Nesse momento ele tocou a base de seu ser humano e divino. Certamente, pelo silêncio: orando, rezando e meditando o que estava lhe acontecendo. Tocando o chão de sua alma, ele encontrou o aspecto divino de seu ser total: corpo, mente e espírito existindo no seio da Divindade-Vida.

Como Francisco, todo ser humano: mulher/homem tem essa baseem que a Divindade Pai-Mãedeixa as marcas de suas entranhas de cuidado, de amor, de compaixão, de justiça e paz.  Foi tocando em sua personalidade humilhada e maltratada, que o jovem de Assis fez sua nova experiência de um Deus vivo que transcende, ou ultrapassa seus sentimentos na alma e os sofrimentos no corpo.

Depois da descoberta de um Deus em tudo e em todos, o que era mundano na mente de Francisco, cedeu lugar ao sentimento religioso de sacralidade da vida. A partir de então, o caminho da vocação franciscana teve uma nova direção, para “Meu Deus e Meu Tudo”. Sendo assim, Deus e Tudo – no ser de Francisco – se tornaram o referencial de sua espiritualidade humanística e ecológica.

Se o caminho da vocação franciscana é esse, então, as pessoas que escolhem ser e viver franciscanamente não podem estar se divertindo ou brincado de franciscanismo no mundo atual. A vocação franciscana é um chamado radical de Jesus, “Senhor e Deus”, para que abracemos a causa da vida de tudo na Criação, e de todos nas saciedades do mundo inteiro. O abraço a esta causa começa no nosso meio-ambiente natural, familiar, social e mundial. Mas o ponto de partida mesmo está em casa, na comunidade de fé e na região de nossas andanças para trabalhar, estudar, negociar, celebrar a vida e evangelizarem nome de Jesus Cristo, o homem do Amor!

O caminho da vocação franciscana é o caminho de Jesus de Nazaré. Este caminho clareado pelo divino Espírito, que levou Francisco de Assis a abraçar o leproso, a ouvir a voz do Crucificado e a escutar atentamente a palavra de Deus no Evangelho. Estas três atitudes revelam como Francisco foi respondendo sua vocação, até completá-la pelo abraçamento humano, terno e fraterno da Natureza, vendo nela o esplendor das maravilhas de Deus o qual se esconde, misteriosamente, nos empobrecidos e na Criação em dores de perto, como dizia o apóstolo Paulo.

Portanto, se hoje desejamos ser franciscanos e franciscanas “em espírito e verdade”, temos que assumir, existencialmente, um projeto pessoal, familiar, comunitário e social de salvamento da vida ameaçada, sobre a face verdejante e ferida de nossa mãe Terra. Atualmente, essa face está estampada nos rostos de milhões de seres humanos: crianças, adolescentes, jovens, mulheres, homens famintos e humilhados pelo “capeta capital”.

Além do mais, essa face está maltratada pelo descaso de tudo o que existe e vive na ordem do meio-ambiente da criação do Deus vivo e criador. Que São Francisco nos inspire a sermos mais humanos, ecológicos e sensíveis ao todo da criação de Deus. 

Fonte: Jornal O Santuário. Colaboração: Frei Anízio Freire, ofm (in memorian)

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