Dia do Ecumenismo: São Francisco e o diálogo que nasce da fé

Dia do Ecumenismo

Neste Dia Nacional do Ecumenismo, a Igreja recorda a importância do diálogo, do respeito e da fraternidade entre os povos e tradições religiosas. No exemplo de São Francisco de Assis, encontramos um testemunho luminoso desse espírito: o encontro do Pobrezinho com o sultão al-Malik al-Kamil, ocorrido durante as Cruzadas, tornou-se símbolo de um diálogo que não nasce do medo, mas da fé; não da imposição, mas do amor. Nesse gesto, Francisco revelou ao mundo que o verdadeiro caminho da paz se constrói na escuta e na acolhida do outro. A seguir, compartilhamos o relato completo desse episódio, narrado por São Boaventura em A Vida e Milagres de São Francisco de Assis, texto que inspira, até hoje, a busca pela unidade e pela convivência fraterna entre todos os filhos de Deus.

Trecho de “A Vida e Milagres de São Francisco de Assis”, de São Boaventura

Encontro de São Francisco com o sultão al-Malik al-Kamil.
Encontro de São Francisco com o sultão al-Malik al-Kamil.
No fervor de sua caridade sentiu-se inspirado a imitar o triunfo glorioso dos mártires nos quais o fogo da caridade não se extinguia nem se quebrantava a coragem. Inflamado por esse perfeito amor que expulsa o temor, suspirava por se oferecer como hóstia viva a Deus imolada pela espada do martírio; dessa forma ele passaria a Cristo a morte que ele aceitaria por nós e levaria os homens ao amor de Deus.
No sexto ano depois de sua conversão, ardendo de desejo de martírio, resolveu ir à Síria pregar a fé cristã e a penitência aos sarracenos e a outros infiéis. Mas o navio que o conduzia foi arrastado pelos ventos contrários para as costas da Eslavônia. Aí ficou algum tempo sem encontrar navio com destino ao Oriente. Entendeu que lhe era recusado o que desejava. E como alguns marinheiros se preparavam para ir à Ancona, pediu para embarcar por amor de Deus. Mas como não tivessem com que pagar, os marinheiros nem quiseram ouvi-lo e o homem de Deus, entregando-se inteiramente nas mãos de Deus, introduziu-se sub-repticiamente no navio com seu companheiro. Entretanto, um homem certamente enviado por Deus para socorrer o pobre Francisco chegou trazendo víveres, chamou um os marujos, homem temente a Deus, e lhe disse: “Guarda com todo cuidado estas provisões para os pobres Irmãos que estão escondidos no navio; tem a bondade de lhes entregar de minha parte quando tiverem necessidade”. Os ventos sopravam com tal violência que os dias passaram sem que fosse possível abicar em parte alguma; os marujos estavam no fim das provisões; sobravam apenas as esmolas graciosamente oferecidas pelo céu ao pobre Francisco. Eram muito modestas, mas o poder de Deus as multiplicou de tal forma e em tanta quantidade que, apesar do atraso ocasionado pela tempestade que continuava a castigar duramente, elas satisfizeram totalmente às necessidades de todos até Ancona. E os marujos, vendo afastado o perigo de morte de que os livrara o servo de Deus, deram graças ao Altíssimo onipotente, que sempre se mostra admirável e amável nos seus amigos e servos. E com muito acerto, pois haviam enfrentado de perto os tremendos perigos do mar e visto as admiráveis obras de Deus nas águas profundas.
Afastou-se do mar e começou a peregrinar pela terra espalhando a semente da salvação e colhendo uma messe abundante de bons frutos. Mas o fruto que mais o atraía era o martírio, o mérito de morrer por Cristo; desejava a morte por Cristo mais do que os méritos de uma vida virtuosa, e dirigiu-se a Marrocos para anunciar o Evangelho de Cristo ao Miramolim e seu povo e tentar assim conquistar a suspirada palma do martírio. O desejo que o levava a tais gestos era tão poderoso que, apesar de sua saúde precária, ia sempre à frente de seu companheiro de caminhada, e na pressa de realizar seu plano, parecia voar, inebriado do Espírito Santo. Havia já chegado à Espanha, mas Deus, que o queria para outras missões, dispusera de modo diferente os acontecimentos: uma doença bastante grave o prostrou, impedindo-o de realizar seu desejo. Não obstante a certeza do lucro que a morte representava para ele, o homem de Deus compreendeu ser necessário viver ainda pela família que gerara. Por isso voltou para cuidar das ovelhas entregues à sua guarda.
Mas o ardor de sua caridade o impelia ao martírio. Pela terceira vez tentou ele partir aos países infiéis para difundir com o derramamento de seu sangue a fé na Trindade. Aos treze anos de sua conversão, foi às regiões da Síria, enfrentando corajosamente muitos perigos a gim de comparecer diante do Sultão da Babilônia, pessoalmente. Uma guerra implacável castigava cristãos e sarracenos. Os dois exércitos encontravam-se acampados muito próximos, separados apenas por uma estreita faixa de terra, que ninguém podia atravessar sem perigo de morte. O Sultão havia publicado um edito cruel: todos que lhe trouxessem a cabeça de um cristão receberiam uma grande quantia de ouro. Mas o intrépido soldado de Cristo, Francisco, julgando chegada a ocasião de realizar seus anseios, resolveu apresentar-se diante do Sultão, sem temer a morte, mas antes desejoso de enfrentá-la. Confortado pelo Senhor, depois de fervorosa oração, repetia com o profeta: Ainda que eu ande por um vale tenebroso, não temerei males, porque tu estás comigo.
Tomou, pois, consigo um companheiro chamado Iluminado, homem de inteligência e coragem. E havendo começado a caminhar, saíram-lhe ao encontro duas mansas ovelhinhas, à vista das quais, cheio de alegria, disse a seu companheiro: “Confiemos no Senhor, Irmão, porque em nós se realizam hoje as palavras do Evangelho: Eis que eu vos mando como ovelha no meio de lobos.” E tendo-se adiantado, encontraram as sentinelas sarracenas que, quais lobos vorazes contra ovelhas, capturaram os servos de Deus e, ameaçando-os de morte, maltrataram-nos com crueldade e desprezo, os cobriram de injúrias e violências e os algemaram. Por fim, depois, de havê-los infligido e atormentado de mil maneiras, a divina Providência fez com que os levassem à presença do Sultão, realizando-se desse modo as fervorosas aspirações de Francisco. Colocados em sua presença, perguntou-lhes aquele bárbaro príncipe quem os havia enviado, a que vinham e como tinham conseguido chegar a seu acampamento. Ao que respondeu o servo de Deus com intrepidez que sua missão não procedia de nenhum homem, mas de Deus altíssimo que o enviava para ensinar a ele e a todo o seu povo os caminhos da salvação e para pregar-lhes as verdades de vida contidas no Evangelho. Com tanta constância e clareza em sua mente, com tanta virtude na expressão e com tão inflamado zelo pregou ao Sultão a existência de um só Deus em três pessoas e a de um Jesus Cristo, Salvador de todos os homens, que claramente se viu realizar-se em Francisco a palavras do Evangelho: Eu vos darei uma linguagem e uma sabedoria, à qual não poderão resistir, nem contradizer todos os vossos inimigos. Admirado o Sultão ao ver o espírito e o fervor do seráfico Pai, não apenas o ouvia com grande satisfação, mas até insistiu com repetidas súplicas que permanecesse algum tempo com ele. Mas o servo de Deus, iluminado pela força do alto, logo lhe respondeu dizendo: “Se me prometeres que tu e os teus vos convertereis a Cristo, permanecerei de muito bom grado entre vós. Mas se duvidas em abandonar a lei impura de Maomé pela fé santíssima de Cristo, ordena imediatamente que se faça uma grande fogueira e teus sacerdotes e eu nos lançaremos ao fogo, a ver se deste modo compreendes a necessidade de abraças a fé sagrada que te anuncio.” A esta proposta, replicou sem demora o Sultão: “Não creio que haja entre meus sacerdotes um só que, para defender sua doutrina, se atreva a lançar-se ao fogo nem esteja disposto a sofrer o menor tormento.” E sobrava-lhe razão para dizer isso, pois vira que um de seus falsos sacerdotes, ancião e protervo sequaz de sua lei, desaparecera, mal ouviu as primeiras palavras do santo. Este acrescentou, dirigindo-se ao Sultão: “Se em teu nome e em nome de teu povo me prometeres abraças a religião de Cristo, com a condição que eu saia ileso da fogueira, estou disposto a entrar eu sozinho nela. Se o fogo me consumir entre suas chamas, atribua-se isso a meus pecados; mas se como espero, a virtude divina me conservar ileso, reconhecereis a Cristo, virtude e sabedoria de Deus e único Salvador de todos os homens.” A essa proposta respondeu o Sultão que não podia aceitar esse contrato aleatório, pois temia uma sublevação popular. Mas ofereceu-lhe numerosos e ricos presentes que o homem de Deus desprezou como lama. Não era das riquezas do mundo que ele estava ávido, mas da salvação das almas. O Sultão ficou ainda mais admirado ao verificar um desprezo tão grande pelos bens deste mundo. Não obstante sua recusa ou talvez seu receio de passar à fé cristã, rogou ao servo de Deus que levasse todos aqueles presentes e os distribuísse aos cristãos pobres e às igrejas. Mas o santo que tinha horror de carregar dinheiro e não via na alma do Sultão raízes profundas da fé verdadeira, recusou-se terminantemente a aceitar sua oferta.
Vendo frustradas suas ânsias de martírio e conhecendo que nada adiantava seu empenho na conversão daquele povo, resolveu Francisco, por inspiração divina, voltar aos países cristãos. E assim, por disposição da bondade divina e pelos méritos e virtudes do santo, sucedeu que o amigo de Cristo procurou com todas as suas energias morrer por ele, mas não conseguiu. Desse modo não perderia o mérito do desejado martírio e ainda gozaria de vida para ser mais adiante assinalado com um selo e um símbolo desse martírio. Aconteceu assim para que aquele fogo primeiro ardesse em seu coração e mais tarde se manifestasse em sua carne. Ó varão verdadeiramente ditoso, cuja carne, embora não tenha sucumbido sob o ferro do tirano, teve, contudo, tão perfeita semelhança com o Cordeiro morto por nosso amor! Ó varão mil vezes feliz, cuja alma, embora não haja sucumbido debaixo da espada do carrasco, nem por isso deixou de alcançar a palma do martírio!

O encontro de São Francisco com o sultão permanece, séculos depois, como um farol para todos os que acreditam na força do diálogo inter-religioso e da paz. Nesse gesto simples e corajoso, o santo de Assis antecipou o verdadeiro espírito ecumênico: reconhecer no outro um irmão, mesmo quando a fé e a cultura nos diferenciam. Que neste Dia do Ecumenismo, inspirados por Francisco, aprendamos a nos aproximar uns dos outros com humildade e amor, para que o mundo veja no respeito mútuo e na fraternidade o reflexo do próprio Deus.

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